segunda-feira, julho 27, 2009

Barreiro Velho: 35 anos a ver a maré passar

Sinónimo de cultura camarra, parte fundamental da história da cidade e local de eleição para divertimento nocturno, o coração do Barreiro é hoje uma amálgama de projectos falhados com outros bem sucedidos. Se, por um lado, encontramos estruturas bem implementadas como é exemplo a Escola de Jazz e seu bar adjacente, basta passar para o outro lado da estrada para encontrarmos uma garagem abandonada, refúgio de entulho e maus odores.

São pródigos nessa co-habitação outros exemplos, como a Rua Joaquim António D’Aguiar ou a Rua Marquês de Pombal: nela coexistem muitos dos bares e restaurantes mais aclamados pelos barreirenses, junto a estruturas prediais em ruína que, cada vez mais, criam a quem por lá passa uma forte sensação de desconforto e insegurança, pois casas naquelas condições são infelizmente típicas de bairros sociais e, como tal, nunca deveriam deixar chegar à situação em que se encontram.

É por isso completamente inadmissível que se ignore uma solução que está á vista de todos: é necessário devolver o Barreiro Velho às pessoas!

É certo que ouço desde há muito a existência de planos de reestruturação, fomentados pela autarquia, pelo governo e inclusive pela União Europeia, no entanto o que assiste é o avanço da degradação do Barreiro Velho e nisso a culpa não pode morrer solteira, pois se há projectos, se há financiamento e se há vontade das pessoas, porque não se concretiza nada?

Poderão justificar-se que o Fórum Barreiro, a reestruturação da antiga Escola Mendonça Furtado, o novo Mercado 1º de Maio ou o “novo” passeio Augusto Cabrita são claras concretizações de mudança para o Barreiro Velho, contudo pouco ou nada mudou no coração do mesmo, pois os prédios em situação deteriorada apenas agravaram a sua condição visto que as prometidas intervenções continuam sem se realizar, passando por isso ao lado destes grandes investimentos.

Poderão também dizer que o Estado falhou às suas promessas, que houve problemas na concretização da candidatura aos fundos europeus ou que os mesmos estão suspensos, poderão até dizer que os habitantes do Barreiro Velho são pouco sujeitos à mudança, no entanto um facto é indesmentível: pouco ou nada mudou para melhor no Barreiro Velho após o 25 de Abril.

Para concluir, é preciso garantir que esta área da cidade caminhe numa e só direcção. Essa direcção deverá passar pela intervenção e desenvolvimento sustentado das estruturas existentes, construindo de raiz se preciso, demolindo se necessário. Precisa-se ainda e urgentemente de uma política eficaz de habitação jovem, ajudando-os à sua fixação na cidade, se possível no Barreiro Velho. Além de contribuir para o rejuvenescimento da área, estaríamos também a preservar a cultura barreirense, que devido à fuga dos seus habitantes mais jovens para Lisboa e outros centros urbanos, tem vindo a definhar consideravelmente.

Como tal, afirmo que a grande prioridade do próximo Executivo deverá ser o Barreiro Velho, pois ao abandoná-lo uma vez mais, estaremos a hipotecar de vez o seu futuro.

Artigo publicado no Jornal do Barreiro, nº 3017 a 17-07-2009

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