quarta-feira, novembro 23, 2005

Mar de outrora, mar de amanhã


Hic uasto rex Aeolus antro
luctantis uentos tempestatesque sonoras
imperio premit ac uinclis et carcere frenat

[ Eolo, rei, aqui numa espaçosa
Gruta, com o seu império e mando enfreia
Dos ventos a cruel ferocidade,
E em prisões tem a insana tempestade ]

A Eneida de Virgilio, apesar de nunca o ter lido na íntegra, é uma obra saudável e rica em conteúdo mitológico, assim como palavras exóticas e poderosas. Nela encontramos treixos absolutamente maravilhosos que nos proporcionam uma pequena viagem ao mundo em que o mare nostrum era a força reinante. Hoje o mar não é a força dominante mas a força dominada. O aquecimento global tornou o mar no cemitério da humanidade. Engane-se quem pense que o mar é apenas o elo de ligação entre aquecimento global e morte da humanidade. O mar é mais que isso, é um ser com vida própria que chora por cada um de nós. O mundo é um ser perfeito, ninguém tenha dúvidas disso, mas como todos os outros seres, também morrerá. E com ele irá o mar, inspirador de paixões e de saudade. Que pena que em vez o perpetuarmos até onde pudermos, o assassinemos da pior maneira: lenta e dolorosamente.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Livre arbítrio:

Casa do Basileu -> Basílica
Casa de Galileu -> Galílica

Futuramente, num dicionário perto de si

quinta-feira, novembro 17, 2005

O mar

Por vezes o mar é cruel e leva-nos aquilo que nos é querido. Outra vezes o mar é gentil e traz-nos recordações que queríamos de volta.
O mar é tudo aquilo que a vida devia ser e ao mesmo tempo, tem em si tudo o que podemos encontrar no pior dos pesadelos. O mar é isto. Por isso quando viajo para longe dele, sinto-me estrangeiro. O frio, a calma e a raiva...tudo nele é majestoso e tudo nele deixa saudade. Só através do mar conseguimos explicar esse sentimento chamado saudade. Tirar o mar a um português é tirar-lhe a saudade, é matá-lo por dentro.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Ex nihilo

Hoje descobri o real significado da palavra ex nihilo. Foi por acaso, num livro que nada tinha que ver com o assunto. Numa daquelas frases normais de quem está a tentar explicar alguma coisa, o autor usa de uma expressão em latim. Cá está algo que sempre me confundiu: apesar de criticados no longínquo século XV por Erasmo de Roterdão, os intelectuais dos dias de hoje continuam a abusar das expressões em latim, como que para mostrar que também têm um dicionário de latim em casa. E explicar o real sentido das coisas continua também a ser mentira. Começo cada vez mais a intrigar-me se tal uso de expressões consiste apenas numa constante falta de ideias. Assim, os tais intelectuais seriam apenas idiotas (sem ideias).
Ao também usar expressões latinas, entro para o lote destes (pseudo) intelectuais, no entanto e tal como quero ser um rico inteligente, também quero ser um intelectual idiota.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Frase do dia:

"Na vida não é tudo tau e tau"

terça-feira, novembro 08, 2005

Uma falha.

Uma simples falha e a confiança dos outros em mim desaparece. Não entendo porque funciona assim. Eu dou oportunidades aos outros, não uma última hipótese mas sim uma hipótese que se não for cumprida, será renovada. Não consigo dizer que não e não consigo deixar de ajudar os outros, mesmo que estes sejam meros interesseiros. Não me gosto de humilhar, por muito que a leitura destas palavras leve a crer nisso, acho apenas que o meu orgulho se encontra num patamar diferente do resto dos outros. Não me revejo nesta sociedade individualista e narcisista. Para mim [e por estúpido que tal pareça ao mundo], o bem dos outros é o meu bem. Acho que vivi a idade das invejas, dos orgulhos e das ganâncias na infância e por isso, tudo o que olho à minha volta parece um rídiculo perpetuamento da adolescência.

PS: Ainda bem que há excepções.

domingo, novembro 06, 2005

O corpo.

O que é afinal esta massa movediça que nos acompanha? Porque choramos mais por qualquer fissura nele do que choramos por outras coisas bem mais valorosas? O corpo traz consigo um certificado de orgulho. Este altera-se conforme a simetria mais perfeita ou conforme a raridade: quanto maiores forem estes dois, mais orgulho existe, mais o corpo é preservado, mais o absurdo cresce. Basta sair à rua pra se perceber isto. No entanto fica uma sugestão: experimentem olhar aos pormenores e compará-los com animais. Por exemplo, se tiver uma crista é galo, se tiver um capacete é um porco, se tiver cores bizarras é um pavão e por aí fora. Depois imaginem-se como um explorador perdido que encontra todas essas espécies raras a circular à sua volta e, no entanto, completamente alheadas dos vossos movimentos. Este imaginário pode trazer momentos hilariantes...pelo menos comigo traz.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Um problema

Nem todos transportam cultura. Um B.I. não significa que o seu portador seja fechado nas fronteiras que delimitam a nação e muito menos significa que este esteja limitado culturalmente ao espaço a que está confinado. Ao invés, o sujeito nacional pode estar idóneo a novas tradições, novos estilos, novas maneiras...enfim, ao que entendemos como o conjunto de factores que formam uma cultura, isto é, o sujeito poderá nunca se identificar com a cultura em que nasceu e viveu. Dizer que a cultura se ganha com a educação escolar e familiar não é totalmente correcto, pois no sujeito poderá existir uma propensão à diferença, procurando assim novas tendências e novos fenómenos identificadores do seu "eu cultural".
Concluíndo, o multiculturalismo enquanto relação de identidades através do conflito e interactividade ou como relação de culturas não totalmente definidas, pode partir da procura pelo "eu cultural", ou seja, começa na mobilidade interior do sujeito e não da mobilidade exterior. A viagem é dentro de nós, só depois ela se aplica ao mundo.