domingo, fevereiro 06, 2005

Da poesia

Definição do indefinível. Isto é algo a que todos aspiramos. Todos queríamos ter no léxico as palavras capazes de dizer o que é um certo sentimento, uma certa raiva, uma certa paixão...
É nesse aspecto que se vê o poeta. O verdadeiro poeta, por muitas vezes estar abnegado dos sentimentos, consegue exprimir tudo aquilo que nós algum dia quisemos exprimir, mas porque o sentíamos em demasia, não o conseguimos. E digo que o poeta tem que se abnegado dos sentimentos, porque se este senti-los e transportá-los para o papel, torna-se ridículo. Há uma distância que deve ser preservada para que a poesia encaixe num certo modelo que atinja um maior número de leitores. Para a poesia ser um monumento literário precisa de uma carga obscura, de um sem número de mensagens atrás das palavras, de um inacabado que lhe dê movimento. Fazer poesia não é dificil. É até uma tarefa básica. Fazer boa poesia é complicado, porque aí já há um retrato qualquer mais humano, mas quando se entra aí, é fácil cair-se no exagero. Fazer poesia única é para predestinados e para momentos de loucura. Para fazermos esse tipo de poesia precisamos de saber todos os limites das palavras, todas as mensagens que proporcionam, de sentir cada uma dessas mensagens de uma maneira tão próxima e dolorosa como a morte e ao mesmo tempo, de distanciarmo-nos dela. É uma tarefa ao alcance de raras pessoas. Eu não sou certamente uma delas. Mas elas existem, e por vezes estão esquecidas no múrmurio da população, que vê a poesia como algo ilógica ao nosso tempo, e por isso, motivo de chacota. É triste que se dê mais valor a um gajo que dê uns biqueiros numa bola ou mostre as suas tatuagens numa quinta, que a um verdadeiro poeta. É triste a nossa falta de visão cultural. Tudo soa a triste quando vemos a língua (a nossa verdadeira identidade) esquecida e atropelada.

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