sexta-feira, outubro 08, 2004

Sociedade em crise

Pois é, a última grande vantagem que nos trouxe o governo de Santana Lopes foi a censura. Após a desorganizada (não) colocação dos professores nas respectivas escolas, o governo, através do ministro-remendo Gomes da Silva, criticou fortemente Marcelo Rebelo de Sousa por este ser mais inimigo do governo que a própria oposição. Eu fiquei estupefacto pelo tom acérrimo com que Gomes da Silva criticou o professor Marcelo, até porque nesse domingo cheguei tarde do trabalho e a crónica semanal do professor era o único programa de interesse que estava a ser emitido enquanto jantava. Ouvi atentamente as suas palavras e concordei com a maior parte das suas afirmações, sobretudo quando ele se pôs contra a ponte de segunda-feira, alegando que o governo tinha pedido mais trabalho e que estava a efectuar exactamente o contrário do pretendido. Nunca pensei é que tais palavras fossem escamoteadas daquela forma.

Após isto, Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se com o presidente da república Jorge Sampaio para discutirem tal acontecimento. E com isto viram-se dois bons exemplos de como está o nosso mundo político:

1) O Presidente da República tem uma audiência com o professor Marcelo alguns dias após o seu abandono da televisão, para conhecer os factos que o levaram a cometer tal acto. Imagine-se que eu escrevia um livro que era crítico em relação ao governo e este era censurado não pela minha editora, mas sim por ordem governamental. Quanto tempo teria eu de esperar para ser ouvido pelo presidente? Seria eu alguma vez ouvido pelo presidente?

2) Santana Lopes ficou fragilizado nesta situação, encontrando-se cada vez mais isolado na esfera política. O apoio que o Presidente da Republica manifestou ao seu executivo vai-se esfumando; o apoio dentro do PSD é cada vez menor, dado que Durão Barroso não o pode acudir neste momento; a oposição conhece-o bem e apresenta uma vitalidade que não se via desde a primeira candidatura de Guterres ao executivo. neste cenário, há condições para continuarmos a acreditar que este governo fará algo positivo por nós no que resta do seu mandato?

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