sábado, julho 12, 2008

Fados

A discussão em torno da Fundação Amália mostra-me de forma inequívoca que os valores do fado que a acompanhavam foram com ela para a tumba. Dizem-me que alguém tem que gerir o que por ela foi deixado, embora ninguém queira assumir a completa responsabilidade de tal tarefa, pois o fardo é pesado demais. Curiosamente, quem participa na discussão são exactamente aqueles que, acabado o funeral, se levantaram logo exigindo que o seu espólio fosse para o local certo. Claro que nunca se deram ao trabalho de explicar qual o caminho desse local, deixando os seus bens - que não passam disso, bens pessoais da fadista - entregues a si mesmos. Já passa algum tempo do falecimento da fadista e é pena, que aqueles que se insurgiram contra o interesse do Estado no espólio, peçam agora que este actue.

Pelo meio, encontro em Lisboa um japonês, com uma guitarra portuguesa ao lado, lendo artigos de fado, embrenhado num mundo que para nós portugueses, diz cada vez menos, muito devido a todas as quezílias e interesses que reinam no fado-negócio.
A esperança do fado encontra-se nestes ilustres desconhecidos turistas, que tentam aos poucos assimilar a cultura fadista, ouvindo aqui e acolá aquelas intragáveis palavras que dizem que apenas os portugueses podem apreciar na plenitude o fado. Triste, muito triste o nosso fado, quando queremos guardar o sentimento só para nós.

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