quinta-feira, abril 29, 2004

Translatio emperii, translatio studii do homem no mundo comtemporâneo

Aproveitando o saber adquirido durantes as aulas, sorri e dei por mim em afterthoughts sobre a matéria apreendida nas aulas de matrizes. E escrevi isto:

O transporte de elementos identificadores do velho continente para o Estados Unidos da América após a sua independência é o motivo mais recente de translatio imperii, translatio studii. Tal como o império romano deslocou elementos helenísticos para o seu território, também a estátua da liberdade oferecida pelos franceses, a língua inglesa e o obelisco na capital Washington são (porventura sem os próprios americanos o notarem) sinónimos de deslocação do poder político e porque não?, do poder ideológico e cultural. Hoje o grande império que se expande até ao médio oriente tal como Alexandre e Augusto o fizeram é o império dos EUA. Aliado a este fenómeno histórico assistimos também ao bom dispêndio das politicas globalizantes, das indecisões da política europeia que se atrasa dois passos cada vez que dá um e, obviamente, de factores históricos: o colonialismo despregado e ditatorial criou severas revoltas que culminaram com a morte de soldados europeus, criando isto uma crise etária, para além do esgotamento e mau emprego das matérias-primas trazidas das colónias. A corrupção do homem, o seu desejo bélico e os seus sonhos magnânimos acabaram por tornar as matérias-primas coloniais em nada. Construíram-se novos meios de comunicação como pontes e auto-estradas, modernizaram-se as cidades e no entanto, o comum cidadão continua pobre e sem ambições. É triste assistir nos dias de hoje a jovens com um potencial imenso a desejarem ser obscuros recepcionistas ou secretários de pequenas e médias empresas. Tal como os nossos pais emigraram para Lisboa e Porto à procura de trabalho para conseguirem uma vida no mínimo, estável, também nós lutamos actualmente pelo mesmo. Foi assim há 30 anos e é assim agora.
Mais do que nunca assistimos à deslocação em sentido inverso. Os obeliscos já não se situam na terra e apontam para o céu, são sim afiados e perfuradores da carne do povo. O clero/igreja continua envolto em mistérios de corrupção e o futebol assim como o lazer segue-lhe o caminho. O processo "apito dourado" é demonstrativo das estranhas ligações entre instituições e os dinheiros públicos. Hospitais, centros de saúde, escolas, faculdades e a totalidade dos serviços públicos estão envoltos num manto burocrático que nos corrói a paciência, a boa disposição e o tempo.
É assim o nosso tempo: lento em processos de valor perjorativo ao Estado e rápido em processos contra o cidadão do mundo, o cosmopolita que os gregos inventaram, os romanos aperfeiçoaram e os contemporâneos esbanjam em ócios relacionados com as suas necessidades básicas de sexo e violência.
Para mim existe hoje uma deslocação cultural e política herdada dos romanos e representada actualmente pelos EUA, que culminará num conflito à escala planetária (vicissitudes da globalização) com efeitos arrasadores que ninguém saberá. Mas não tenho dúvida alguma que esta é idade de ferro que Hesíodo falava, a ultima das idades, o ultimo dos porquês.

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