Teatro de Sonhos
A cortina desce, a peça começa. Entra o actor principal e questiona:
- Porque já não gostas do que escrevo? O passado deve continuar nostálgico em ti. Não o duvido, mas a minha mensagem é outra e tu não pareces ser capaz de a captar.
Entra um ser enfeitiçado pela novo mundo mas constantemente inundado pelo amor ao passado. Profere as seguintes palavras:
- O meu mundo é congestionado pelo que vivo. O amor que tenho pela vida pode não passar de um engarrafamento de emoções em que tardo na descoberta da sua identidade. Não me serve de nada a confusão generalizada de um mundo que me faz abrir a boca de espanto com tantas e novas inovações se depois caio num amor tão profundo pelo clássico.
O actor principal contesta:
- O que te rodeia é o que te convida a essas mirabolantes reflexões. É Kafka que te ensina isto. No entanto tu vives a vida agarrado a um amor que nunca te dará nada excepto desilusões. Irás descobrir que muitos segredos da história são indecifráveis pelo simples motivo que o ser humano não quer que eles se decifrem. Irás descobrir que as visões contemporâneas que tens do mundo antigo não são mais do que analogias dos defeitos do homem actual. Irás cair em depressão porque em dois milénios a humanidade sempre foi juiz e carrasco dos seres que os acompanham no mundo, baseando-se numa lei incosistente de equilíbrio natural promovido pela sobrevivência da espécie.
O apaixonado pelo que passou finaliza:
O mundo que eu amo é aquele que chegou até nós, o mesmo que tu e eu pisamos. Não julgo nem analiso o que se sucedeu até aqui de maneira tão criteriosa como tu, porque as vozes são diferentes, tais como os pensamentos e opiniões. Na voz que agora entoo, digo-te que a terra é a mesma que os nossos antepassados pisaram. É nela que procriamos e reflectimos sobre questões da humanidade, tal como eles o fizeram. A humanidade que criticas é a mesma que nos faz procurar respostas para as nossas dúvidas. A mesma humanidade que através de pequenos passos alcança a resposta que tu preferes esconder em julgamentos de espécies.
Fecha-se a cortina e o ser humano continua perdido.
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